quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fronteira é um dos nome das roupa.


Texto que não entrou no Verão Contemporâneo. Experiência inusitada:

NA FRONTEIRA DO CORPO
DO GÊNERO
DAS SAIAS
DA CALÇA
DO CAMINHO.

NA FRONTEIRA DO ABISMO
DO PENHASCO
DO REDEMOINHO.

MEU LIMIAR É ESSA FRONTEIRA QUE NÃO ME LARGA
ENLAÇA, ACOMPANHA, SEGURA: EXTENSÃO.

TENHO ROTAS A SEGUIR?
TENHO CORPO PRA VESTIR?
O QUE É SEGURO?

NA FRONTEIRA, ONDE ALCANÇO
ADAPTO
AMARRO
RODOPIO
TRANSFIGURO.

“O QUE PODE O CORPO”? O QUE PODE A CRIAÇÃO?

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Proibido Proibir


Assisti ano passado e vou poder conversar sobre ele com uma turma este mês. Gosto do roteiro, gosto dos olhares, dos focos, do Rio visto e representado, gosto das atuações, delicadas nas suas irregularidades, gosto das questões que emergem devagar e que só se apresentam, sem muito julgamento.

Gosto do abraço e da esperança que fecha o filme: dolorida, sentida, machucada, mas ainda esperança!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

quarando o eu na estiagem

Lavanda (Otto)

Em Bora Tao
Em Bangladesh Goa
Na China Mao
Free Tibet para mim é pessoal
Lavanda ofereço orixá
Luanda, Havana e Salvador
Na lama do Recife sou xangô
Umbanda, caranguejo, salta a dor
Que idade banha ele
Banho de mar
Que idade banha ele
Iemanjá

domingo, 11 de janeiro de 2009

"E o Wally rompendo palavras!"


Pan-cinema Permanente é o nome do documentário (?) de Carlos Nader sobre (?) o Wally Salomão. Assiti há algumas semanas, e ele ainda ressoa aqui.

Performance em circuito, transbordante. O mel do excesso, da cena viva, criativa, instigante: poesia. A alegria, sim, é a prova dos 9, quando estímulo pra criação, pros bons encontros, pra obra que se faz na/em/com a vida (curta pra ser pequena). "Me segura que eu vou dá um troço", "Algaravias", "Pescados Vivos" (...) ficam desse poeta que carregou o mistério na postura de vida que não permitia quebras, pelo menos expostas, de vida e arte.
Como diz o Otto: "é o Wally que se vai, rompendo palavras".

Amante da Algazarra
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de
figueira.
Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu
sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino
atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou
desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela
expeliu o estofo.
Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como
quem morde.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Aqueles Dois


A peça Aqueles Dois está na Campanha de Popularização do Teatro.

Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes.

A partir do dia 08/02.


Aqueles dois em delicada sintonia...

Adaptação, desconstrução, diálogo, exercício, processo coletivo (...) talvez seja tudo isso junto e/ou em diálogo, mas, quem sabe, estejamos diante de algo que teime em escapulir das definições apressadas, dos enquadramentos. Digo isso porque acredito que a peça Aqueles Dois (Cia Luna Lunera) dimensiona o texto de Caio Fernando Abreu para um território em que as referências poéticas, musicais, literárias e de vida dançam em uma coreografia delicada, envolvendo o texto literário em uma teatralidade que se ajusta muito bem às propostas de pesquisa de linguagem e de uma espontaneidade que, felizmente, vitaliza o texto e o próprio teatro.
É emocionante partilhar encontros, descobrimentos. E Aqueles Dois nos chega com a generosidade de um abraço. Mas por que? Como? São perguntas necessárias no exercício de uma reflexão que não se encerra no elogio.
Percebo que a proposta apresentada estabelece um pacto com o espectador ao propor um campo íntimo de encenação (espaço do teatro e escancaramento da teatralidade), e reforçar o convite à imersão em uma história que adquire várias vozes e possibilidades de uma escritura teatral, sem perder a fina tessitura do conto. Nesse sentido, há todo um cuidado em abrir frentes, em um campo de linguagem que aciona sentidos e percepções, ao contar a história dos dois funcionários públicos imersos no “deserto de almas” burocrático e as afinidades eletivas que os aproximam afetivamente.
O processo extravasa “poesia”, filia os atores na seara dos criadores, donos que são da cena, incluindo aí uma espontaneidade que nos instiga pela sua aparente fragilidade. No entanto, logo percebemos a necessidade de substituir a palavra fragilidade por delicadeza (essa proposição ética) que dialoga com o texto e com todo o entorno afetivo tão bem amarrado. No deslizamento que os atores fazem em cena aberta por personagens, situações, emoções e espaços, em um belo movimento de multiplicação-diferenciação-identificação, revela-se uma integração poucas vezes vista. É impossível não associar o trabalho atual da Cia Luna Lunera com os instigantes Ensaio Hamlet e Gaivota (Tema para um conto curto) da Cia dos Atores, em que tão bem se ajusta o verso de Orides Fontela: quebrar o brinquedo ainda é mais brincar[1]. As propostas desses grupos se aproximam pela disposição em pesquisar a linguagem cênica e elaborar trabalhos na perspectiva do que podemos aqui chamar de desdobramento continuo, do texto e da cena, apontando para caminhos onde o fragmentado encontra sua unidade no exercício do livre jogo instituído / contra a limitação das coisas (...).

Para não terminar, só mais algumas palavras...

Um campo afetivo emerge do encontro.
Não se sai ileso da experiência em que arte e vida se misturam, em que ação e narração deixam escapulir desejos, em que as afinidades se abrem para novos possíveis...

... em que o coração aberto do expectador se torna cúmplice da piscadela de Odilon Esteves, ao final da apresentação, quando comenta sobre os que ficaram no deserto de almas (talvez infelizes pra sempre) ... e a força de uma providencial deserção ... um devir-afeto.


[1] Todos os versos presentes no texto são do poema Ludismo, de Orides Fontela.
FONTELA, Orides. Ludismo. Poesia Reunida (1969-1996). São Paulo, COSACNAIF; Rio de Janeiro, 7 Letras, 2006

domingo, 4 de janeiro de 2009

Cleópatra na Mostra Passou Batido


Dia 5 de janeiro começa a Mostra Passou Batido, no Palácio das Artes. E, sem dúvida, um filme que passou batidíssimo (uma semana apenas) e merece ser visto é Cleópatra. Segue uma das críticas do filme, retirada do site revistacinetica.com.br.


Cleópatra, de Julio Bressane

Francis Vogner dos Reis

Elogio ao amor
Cleópatra de Julio Bressane é um filme anti-intelectual. A afirmação pode parecer irônica, mas se levarmos em conta que Bressane não usa o cinema como um mero mecanismo de reflexão intelectual (suas imagens são concretas, não metáforas) e também não o tem como um meio de investigação racional que vai delegando sentidos e leituras imediatas a cada imagem, a pecha de “filme cabeça” não faz muito sentido. Seus filmes, Cleópatra em especial, não são invólucros com um conteúdo ilustre, não possuem aspirações inteligentes: o que eles têm são sensibilidades únicas que existem a partir de suas imagens. As preocupações do diretor Julio Bressane certamente são fruto de seu singular instigamento intelectual, mas seus filmes não existem exatamente para contemplar sua vasta cultura e se adequar à sua visão de mundo. Seus filmes, assim como os de Sganzerla, Pasolini e Godard são tão grosseiros quanto sublimes. Seu segredo, seu espírito, reside nessa dualidade.
Este Cleópatra que foi vaiado por uma parte do público no festival de Brasília não é um de seus filmes que pedem uma abertura maior do espectador para estabelecer uma relação com ele. O mito da rainha egípcia Cleópatra VII está lá e Bressane o respeita quase que integralmente. Sua fama de mulher culta, seus casos com Júlio César e Marco Antônio, a política – tanto a de diplomacia quanto a de alcova – e sua morte. Há até uma estrutura dramática (mas não exatamente um desenvolvimento dramático), algo raro nos filmes do diretor, apesar de que a intenção de Bressane não é fazer um trabalho como os de Cecil B. DeMille e Joseph L. Mankiewicz.
No filme, Julio Bressane faz o que pode ser considerado um estudo poético da beleza ou da expressão da beleza. Não de uma beleza que se julgue a partir do enlevo, da norma ou, paradoxalmente, da sua negação. O diretor não trabalha no nível da oposição nem busca afirmar o que é belo. Seu trabalho é o da transcendência do belo, de ultrapassar o que por si só é considerado “bonito” ou “artístico” para atingir uma força que emana das imagens, de suas somas, de seus signos. Em outras palavras: o esforço de Bressane em Cleópatra é atravessar a “estética” (como norma de beleza, de valor, de sentido), indo além dela – nada mais natural já que em alguns de seus últimos trabalhos ele escolheu personagens de “passagem” como um tradutor (São Jerônimo) e o filósofo da transvaloração (Nietzsche). São personagens no limiar de um mundo velho e na tentativa de conferir valor e significado a um mundo novo.
Bressane procura em Cleópatra uma personagem capaz de sintetizar, e trazer à luz, toda sorte de imagens necessárias para que ele trabalhe a expressão – pictórica, léxica e musical – de questões que englobam sua poética sobre o conhecimento e a arte (“sou Alexandria e sou Atenas”, diz a personagem), uma espécie de versão do autor sobre as imagens que constituem o conhecimento e a arte ocidentais. A Cleópatra de Alessandra Negrini (na performance mais radical do cinema brasileiro nos últimos anos) é uma espécie de médium, de receptáculo que absorve e transborda ao mesmo tempo as forças vitais da beleza e do conhecimento. Tanto que ela é cortejada pela Roma decadente que sofre de uma aridez criativa, de uma escassez de beleza e de um sufocamento do poder. Segundo o próprio César “a cultura latina é um erro, uma deturpação da grega”. Roma tem em Cleópatra uma imagem da promessa de ser o que não conseguiu ser. Um desejo do que lhe é ausente.
A potência de Cleópatra de Bressane vem de um rigor que não se basta pelo seu conjunto de imagens belas ou pelo seu célebre repertório temático ou até mesmo pelo toque do autor Bressane, já que outros filmes com a sua marca tipo Miramar e em alguns momentos até mesmo O Mandarim, são totalmente apáticos e desprovidos de vida. Existe nele uma energia que, se não violenta a percepção (não chega a tanto), “nos dá a ver”, e isso é raro. Raro porque faz de imagens concretas, nada subjetivistas, a modulação de sua força, de materialização de seu espírito poético. Por isso, muitas vezes Cleópatra nos lembra alguns filmes mudos (Meliés) ou aqueles que têm sua grandeza no uso mínimo (e essencial) das palavras e das imagens (Dreyer). Aqui a luz de Walter Carvalho tem um papel primordial porque, entre outras coisas, obedece ao projeto de um cineasta. Ou seja: é menos marcada pela personalidade “WC”, que em muitos filmes parece francamente trabalhar de maneira autônoma.
Basta querer “ver” para entender que essa lenda que os filmes de Júlio Bressane são prolixos é uma bobagem, retórica preguiçosa de quem opta por entender as coisas através de “lentes mentais”. Já alguém que nunca viu um filme na vida, e assista a Cleópatra, verá, essencialmente (e mais do que em qualquer outro filme), qual a sua particularidade como forma de expressão, desde um enquadramento que se sabe “composição”, passando pela disjunção da imagem sonora e da visual e chegando à musicalidade da disposição das imagens. É um filme didático (no bom sentido) que expõe de maneira clara “do que o cinema é feito”. Cleópatra é feito com a câmera e depende da luz, simples assim. É um filme de cinema exasperado em sua radicalidade, mas com serenidade. É um filme que rejeita velhas categorias de pensamento, é um cinema do futuro: a vocação de todos os grandes filmes em qualquer época.

colada no ouvido

Candura- Max de Castro
Desculpa
Se alguma vez houve estupidez
Insensatez ou falta de atenção
Nem sempre o que a gente diz
É exatamente o que se quer dizer
O coração sincero sabe bem de onde vem
Cada dor e cada dissabor
Eu sei de cor o amor que eu tenho por você
É o que eu tenho de melhor
A vida é dura mas ela só faz melhorar
Nesse meu navegar
Tudo é impreciso, incerto
E tem juros altos demais
Assim eu posso até dizer que cada minuto longe de você eu tenho prejuízo
Ninguém nunca vai e nem pode entender e é difícil até fazer
Uma canção pra dizer
Nós juntos temos um futuro que é a coisa mais preciosa que existe no mundo
A vida é dura mas ela só faz melhorar
Quase não tenho saudade nenhuma

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

propostas ...

propostas:

- "eu preciso afrouxar a roupa e recuperar o paladar"
- exercitar novas danças
- retomar, retomar
- "todos os encontro, todos os poemas / manda me avisar"
- ampliando, ampliando
- encerrar histórias (algumas acabam mesmo)
- invenção
- alegria é a prova dos nove
- tô passando, vou empurrar, por favor, fodas!

(devem mudar, claro)