sábado, 25 de julho de 2009

fragmentos de "Ella nos arroubos e arredores"

de Anderson Feliciano e Mário Rosa
(...)
Campanhia toca. Entra Rosa.
Ella: Oi. Você?
Rosa: Você tem um cigarro?
Ella: Cigarro?
Rosa: É. Cigarro.
Ella: Não. Eu parei de fumar.
(silêncio)
Rosa: Tá frio né?
Ella: Frio?
Rosa: É. Frio.
Ella: Um pouco.
Rosa: Estou te incomodando?
Ella: Incomodando? Não. Gosto disso.
Rosa: Disso o que?
Ella: De (...) deixa pra lá, é que me lembrei do Pluft. Você conhece?
Rosa: Não. O que é?
Ella: Um livro que li quando era bem criança.
Rosa: Não gosto de ler. Prefiro ver novelas. Mas leio revistas, viu. Não sou uma ignorante.
Ella (Desatenta ao comentário de Rosa): Pluft, em determinado momento, pergunta pra sua mãe se gente existe.
Risos.
Rosa: Como assim?
Ella: É que ele é um fantasma. Um fantasma que tem medo de gente. (Silêncio)
Rosa: Você está bem?
Ella: Eu tenho medo de gente. (Silêncio) Melhor mudar de conversa porque você não me entende.
Rosa: Entender o que?
Ella: Vamos mudar de assunto.
Rosa: Falar então de quê?
Ella: Por exemplo, de você.
Rosa: Eu.
Ella: Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente. (Coloca uma música no som)
Rosa: Bobagem!!!
Ella: Essa música é muito bonita, você não acha? (Começa a dançar)
Rosa: Acho. É um pouco triste. Gosto de coisas trist (...)
Ella: É estranho quando a gente dança e não sente a música. Fica tudo meio sem sentido.
Rosa: Eu gosto de coisa triste.
Ella: A gente dança, dança, tenta. Eu não consigo.
Rosa: (Aparentemente triste) Eu acho que eu já vou.
Ella: Espera. Fica mais um pouco. Quer tentar?
Rosa: Eu? O que?
Ella: Dançar.
Rosa: Está tarde.
Ella: Nunca é tarde (...) Cada instante é único. (Puxa Rosa pela mão e começam a dançar). Você tem medo de que?
Rosa: Medo? Eu não tenho medo de nada. Só de uma coisa.
Ella: De que?
Rosa: Ficar louca.
Ella: Como?
Rosa: Deixa pra lá. (Encerra a dança)
Ella: Por que? O que houve com você? (Sem graça) Você quer comer alguma coisa?
Rosa: Não quero incomodar.
Ella: Não incomoda. Ah, tenho algo que você vai gostar.
Ella levanta e sai de cena, volta com uma vasilha cheia de bolinhos.
Ella: Sonhos! A única coisa que tenho aqui em casa para te oferecer são sonhos. Você quer?
Rosa: Não gosto muito de sonhos (...) acho eles sem graça, sem gosto. O que dá um certo gosto é o recheio. Os seus são recheados com que?
Ella: os meus estão sem recheios. Acho eles puros mais gostosos.
Rosa: questão de paladar.
(...)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

TEATRO

o teatro tá vivo. o teatro acontece. o teatro se realiza no pensamento, na criação e no que vai além da memória, pois outras criações, outros pensamentos proliferam.

esse mês duas boas impressões:

- Comédia do Trabalho (Companhia do Latão)



- Till, a saga de um herói torto (Grupo Galpão)


(em invertidos olhares):
da retomada do teatro de rua que se envereda pela "cultura popular medieval" para o teatro épico (ou dialéctico) que retoma o potencial crítico ao desvendar "artimanhas" num exercício de ampla criação e comunicação.

quero mais (...)