sábado, 27 de março de 2010

com ele

“não há obra que não indique uma saída para a vida, que não trace um caminho entre as pedras”.
(Gilles Deleuze)

foi lá no blog da isadora isa


mas eu também gosto de crises e de criar com elas.

fantasia de carnaval 2010

Exílio.
Escrita do exílio.
Diáspora. Da diáspora.
Estranhamento.
Não-lugar que se faz em choque.
Como andar? Perdas e ganhos na expressão.
***
Mas, e se não fosse somente a expressão que contasse? Onde fica a vida que não cabe na expressão? E se víssemos freqüentemente que as pontes se desfazem com muita facilidade, que as portas se fecham sem receio, que não há janelas na parede da sala? Pra onde iria? Voltar já não é possível.
***
Outro dia tentei. Não consegui. E é da ordem do inominável a vertigem que paira.
***
Acomodo-me no estranhamento quando só às cinco horas da manha num domingo de Carnaval. Brevemente amanhece e, ao ligar a TV, tudo ainda é alegria já carregada de sono, suor e cansaço. Vislumbro algum desejo por descanso que me traz uma repentina solidariedade. E eu, Clarice Lispector, me vejo aqui mãe dos foliões, zelosa progenitora esperando que voltem pra casa, que bebam água, que se alimentem, renovem a fantasia e voltem pro cortejo pagão que desenha com muitos e tortos pés uma intempestiva esperança (...)

série pequenos espantos

O choro. Eu sozinho e ela chora. Meu gesto rápido e imediato é pegar a mamadeira, a chupeta, carregá-la no colo. Experimento. Experimento? Não sei. Melhor dizer aqui: testo. A origem do choro, penso e elucubro, ao tentar fazê-la dormir. Por que chora, minha pequena, se não tem ainda que tomar nenhuma decisão que lhe tire o chão? Se o abandono, desses que a gente passa ter consciência aos poucos, não lhe abateu? Se a dor do mundo não lhe (...) e quem disse que ela não sente a dor do mundo? Que estupidez a minha. Claro que o mundo taí pra ela e deve doer. Só que deve doer sem que ela possa falar da dor. Será que é pior doer sem palavras? Não sei, mas acho que quando a gente diz sobre algo que dói há uma espécie de conforto e uma esperança de passar (...) de passar a dor. Mas você ainda não pode me dizer, e eu tenho que adivinhar. Adivinhar? A dor? O Choro? Você, minha pequena, que curioso, minha pequena é um Você que chora e tem dor. A sua dor não é minha, nem seu choro. E agora? Não dou conta do meu, mas tenho que dar as mãos pra ela até (...) passar (...) ou até que ela aprenda a falar sobre a dor, o que não é garantia que ela consiga enfrentá-la ou superá-la. Ou até que, mesmo com dor, ela consiga um provisório aconchego aqui nos meus braços. É (...) e tenha o inicial aprendizado que é de provisórios aconchegos que vivemos. Vai passar, já tá passando. E o riso vem à galope, a curiosidade casa com um silêncio suave e eu já tô quase saindo do teste, quase na experiência desse afeto antes recusado pelo excesso de clichês.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Açucenas

Açucenas: não lembro
de nenhum céu que me console.
Só o que leio, a sós,
São os segundos,
sentidos,
São os açucares agudos
Da memória.
O silêncio rasgado azul
De uma bandeira.

( Armando Freitas Filho)

Com vc, Fofito querido, para rasgar os silêncios, escancarar o bocão da vida!

Saudades!