domingo, 20 de dezembro de 2009

Transporte Público?

Entendo o transporte público num sentido, mesmo sob pena de ser aqui redundante, republicano. Sim, um serviço do Estado para a população que nele confia (?) e paga.
Poderia dar prosseguimento a esse pequeno texto argumentando com a lógica meramente do consumidor que reclama dos serviços. Mas não é isso que me interessa. O desrespeito que aqui me interessa mencionar excede ou não encontra lugar na instância meramente mediada pelo capital. Falo de algo que ultrapassa o que me é de direito por pagar, o que me é de direito por consumir, o que eu nem sei se tenho direito por não perceber que pago. Falo de vida digna.
E eu, professor da prefeitura dessa cidade, e usuário da linha Suplementar 63 (Venda Nova), reclamo aqui da falta de cuidado com a vida dos que utilizam esse “serviço”. Pois freqüentemente me deparo com situações humilhantes de ônibus superlotados; da falta de um mínimo de conforto; de senhores e senhoras correndo o risco de se machucarem na pressa de subir ou descer dos veículos, já que há sempre uma urgência em seguir; de motoristas nervosos, afirmando freqüentemente que estão atrasados; da correria dos ônibus, em situações que algumas pessoas chegam a perguntar, em gritos de indignação, se o que o motorista conduz é um ônibus ou um carro de boi (ou qualquer outro animal).
Em uma estratégia de controle extrema, revestida de organização (ou gestão) dos transportes, onde fica a vida de passageiros e motoristas? Vida aqui no sentido de qualidade, de valor subjetivo, de negação as violências que marcam corpos já tão marcados.
Não, não somos bois, não somos vacas, nem camelos, não deveríamos carregar corcundas de humilhação, nem ruminar em pé, em ônibus apertados (que não conseguimos sequer caminhar dentro), a resignação de que nada podemos fazer, que as coisas são mesmo assim e que o que nos oferecem deve servir ao nosso contento.

Um comentário:

  1. uai. compra um carro.

    e colabora com a superlotação das vias públicas. com o stress. com o caos. com a poluição. com as estatísticas de violência. com a destruição da cidade para alargamento de avenidas. com a feiúra crescente da paisagem. com a indústria oportunista/automobilística. com a pressa. com o desvio de dinheiro público das reais carências nossas. com a vaidade de ter um automóvel (e apontar quem não tem). enfim, colaborar com o não-investimento na melhoria do transporte público, como se a solução fosse fugir dele, como se fosse realmente possível fugir disso.

    o pessoal da bhtrans deve ter adorado sua mensagem. porque está muito bem-escrita. pena que aquela corja não vai fazer nada...

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