sexta-feira, 25 de junho de 2010

Viajo porque preciso, volto porque te amo.


Acabo de assistir Viajo porque preciso, volto porque te amo. Filme curioso e impactante. Ainda penso no que vi, muito: imagens, montagem, narração. É inevitavel pensar nas possibilidades e no acaso diante de tal obra e, claro, nas escolhas e elaboração que faz com que chamemos alguém de criador. Tive vontade de chorar algumas vezes. Senti o peso e lembrei de muitas perdas, as minhas e as que ouvi de pessoas próximas. Lembrei também de estradas, caminhos, fissuras, encontros, fugas e tentativas de resolução (trabalhos de amor perdido), às vezes com mais ou menos poesia.

domingo, 20 de junho de 2010

Kazuo Ohno (1906- 2010)


EU QUERO SER KASUO OHNO!

série caminhos

Não tinha nada a dizer. Era a mudez durante todo o dia ou talvez falasse com alguém nas manhãs em que saia sem dizer pra onde. Longe já se fazia também o tempo do sofá ocupado, dos ruídos dos filhos, dos comentários da mulher e vizinhos. Ele não estava mais lá. Esteve? Será que pensa na falta sentida? Aquela que talvez paire por lá mas que também caminhe por sobre a pele ali? O que guarda esta esfinge que não sugere nem mesmo um enigma a ser desvendado? Não é mistério, não é segredo. Silêncio apenas é o que ele guarda e cultua de um modo particular e intraduzível. No entorno, a culpa é festa para comentários, críticas, ameaças, impropérios e desapontamentos. Legítima é a honra, legítima é a dor, legítima é a decepção, legítima é a vontade de agir ou não, legítimo é aquilo que não sabemos, mas que está lá, operando mudanças invisíveis. De algum lugar, ou de alguma fresta na alma, todos podem falar ou calar, mas não é bem esta a questão. Dizem por aí que desejo é o insondável, nos ameaça, nos dá medo. E será que é um ser desejante aquele que religiosamente abraça o dia em longas caminhadas? O esforço de todos que pensam e observam é de dá sentido, explicar e quem sabe julgar. Mas há algo que é nó e enguiça nossa disposição analítica, felizmente. De nada sabemos deste nosso Bartebly incapaz do balbucio característico - o preferiria não não lhe cabe na boca. E o que lhe cabe na vida? É possível prever? O filho tenta abrir janelas, desbravar caminhos já fechados pelo tempo, esboçar clareiras. Inegável o afeto, inegável o vínculo. Mas algo encerra, impede; e um gosto gelado, que nada tem haver com as tardes de junho, chega pra espantar devires. Qualquer comentário sobre o que não podemos prever na vida somente trisca a imagem de alegria que paira sobre nossas cabeças e insistem em nos vestir. Diante do desfile grotesco de hienas, com suas roupas mal cerzidas, temos dificuldade em saber o que nos serve, o que gostamos. E a pergunta é inevitável: Quando é que escolhemos de verdade? A família não é mais a mesma. E o cotidiano ainda se faz no reativo do estranhamento e das motivações da mudança. Houve uma reviravolta ou uma reviraida. Quem sabe uma revirafuga? Não sabemos. Não sabemos.