sábado, 27 de março de 2010

série pequenos espantos

O choro. Eu sozinho e ela chora. Meu gesto rápido e imediato é pegar a mamadeira, a chupeta, carregá-la no colo. Experimento. Experimento? Não sei. Melhor dizer aqui: testo. A origem do choro, penso e elucubro, ao tentar fazê-la dormir. Por que chora, minha pequena, se não tem ainda que tomar nenhuma decisão que lhe tire o chão? Se o abandono, desses que a gente passa ter consciência aos poucos, não lhe abateu? Se a dor do mundo não lhe (...) e quem disse que ela não sente a dor do mundo? Que estupidez a minha. Claro que o mundo taí pra ela e deve doer. Só que deve doer sem que ela possa falar da dor. Será que é pior doer sem palavras? Não sei, mas acho que quando a gente diz sobre algo que dói há uma espécie de conforto e uma esperança de passar (...) de passar a dor. Mas você ainda não pode me dizer, e eu tenho que adivinhar. Adivinhar? A dor? O Choro? Você, minha pequena, que curioso, minha pequena é um Você que chora e tem dor. A sua dor não é minha, nem seu choro. E agora? Não dou conta do meu, mas tenho que dar as mãos pra ela até (...) passar (...) ou até que ela aprenda a falar sobre a dor, o que não é garantia que ela consiga enfrentá-la ou superá-la. Ou até que, mesmo com dor, ela consiga um provisório aconchego aqui nos meus braços. É (...) e tenha o inicial aprendizado que é de provisórios aconchegos que vivemos. Vai passar, já tá passando. E o riso vem à galope, a curiosidade casa com um silêncio suave e eu já tô quase saindo do teste, quase na experiência desse afeto antes recusado pelo excesso de clichês.

2 comentários:

  1. "vai passar. já tá passando". todo mundo fala. todo mundo tenta confortar. encorajar.

    mas nada passa. e, quando a gente acha que passa, algo fica. e nunca passa. e passa a fazer parte.

    quando a minha vai enfim passar/ficar? não suporto mais!

    :-(

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  2. já passou, já passou (...)
    e ainda vamos rir.
    espero que em breve.
    um beijo.

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