segunda-feira, 15 de novembro de 2010

o malabarista ...

(Foco de luz sobre quem diz o texto. Em pé.)
- “Um malabarista de um trapézio de metal se jogando pra morte”. Foi assim que me vi naquele dia. (curta pausa) E ele nada de promover rapidamente uma rede de proteção. (curta pausa. olha pra cima) Estatela é o pedido do chão. Estatela é o pedido da (...). Não, não quero aqui lamentar o que houve, adocicar ou tentar contar uma historinha praquilo que rasga a linguagem. Outra política? Sei lá. Eis que aqui me encontro e ficarei por muito tempo, entre a saudade e a vontade regida por um automatismo estranho entranhado no corpo. Vontade regida? Novamente, sei lá. Algo pede a repetição. Algo sente que não há repetição.
(Longa pausa. Iluminação oscila: foco e “desfoco”.)
- O malabarista não teme a morte. Talvez nem pense nela ou, quem sabe, a tenha como companheira. O malabarista gosta é do risco que dá a altura do trapézio. O malabarista prefere ficar ali e, com ele, voar. Com ele o malabarista se permite muita coisa. Ele é uma espécie de encorajador e também o companheiro do malabarista, que não pensa na morte. Com ele o malabarista esquece o pedido do chão. Com ele chão é convite pra dança depois do pouso. Com ele não há pouso nem paragem.
Com ele (...) ELE. (pausa) Mas há números forçosamente solitários.
(curta pausa)
E agora? Não há movimento? Nem dança? Nem companhia? Nem ilusória segurança? O pedido do chão retorna ao trágico “estatela”?
Foi assim que me vi naquele dia. Com receio da altura, uma vontade no corpo, que não sabia se era saudade, e uma angustia de tanto chão.
O malabarista encontra seu medo.
“Um malabarista de um trapézio de metal se jogando pra morte”. Respira fundo (...).

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