sexta-feira, 13 de setembro de 2013

as roupas se acumulavam sobre mesa e cadeiras. o tempo encontrou materialidade nas crostas de poeira e gordura. as cortinas cerradas e os móveis em frágil sustentação eram a comprovação da porção abandono da morada dos zumbis. tudo ali, naquela casa, revelava a pior dimensão do tempo: decomposição e um nada germinar. depois que ela se foi, pensou o filho desgarrado, é como se o centro de sentido e funcionalidade daquela família tivesse perdido o motor, nem sombra do automatismo que empurrava os dias pra frente, que colaborava no esboçar do simulacro de família.
as visita àquele lugar eram cada vez mais angustiantes, principalmente pela sensação de que as crostas de poeira e gordura impregnavam o corpo e puxavam para baixo todos que ali chegavam.
o pai, de longe o mais ousado, também não conseguira romper o eixo centrípeto, já que abandonara o projeto de saída do barco sem timão. numa cantinela tchekoviana, ainda afirmava a vontade de exílio,  de tomar a inédita condução da vida em outra embarcação, mas nada de um passo maior, já que seu arrastar estava, por melindres morais, em sintonia com o inerte posicionar dos filhos.
aquele castelo em ruínas era de uma falsa fragilidade que amedrontava, pois seu destino não era se desfazer mas se manter sólido e monumental cada vez que um pedaço se desmoronava ou uma fenda aparecia. sua inconfessável função era o de se constituir o templo da memória em que se cultuava dissimuladamente a morte.

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